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Maria Pace Chiavari


Ao crescer, o Moinho se moderniza


Fachada do Moinho em 1913, após acréscimo de mais quatro andares sobre o original. ACERVO MIS – MUSEU DA IMAGEM E DO SOM/CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
Fachada do Moinho em 1913, após acréscimo de mais quatro andares sobre o original. ACERVO MIS – MUSEU DA IMAGEM E DO SOM/CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE

As modificações trazidas pelas obras do porto, bem como o crescimento da produção, se tornam incentivos para o Moinho Fluminense se renovar. Como primeira iniciativa, a diretoria, de acordo com os acionistas, delibera não distribuir os dividendos e acumular o capital para investir em obras de melhoramento e modernização.78 Em 1910, iniciam-se as reformas. Na primeira fase, aumenta-se o espaço de trabalho, acrescentando-se três pavimentos e um ático na parte onde a construção tinha dois pavimentos. É mantido o estilo original em tijolos maciços.79

Paralelamente, poucos meses depois da inauguração do porto,80 têm início as obras para a construção de um túnel capaz de restabelecer a conexão do Moinho com o mar, que a abertura da Avenida Caes do Porto, atual Rodrigues Alves, tinha interrompido.

Por meio dessa passagem subterrânea, escavada por baixo da tal nova avenida, o estabelecimento recupera o acesso direto ao mar e ao novo cais. Isso facilita o itinerário do trigo, que, uma vez descarregado do navio por meio de um elevador elétrico, e instalado no cais, passa através do túnel até chegar ao estabelecimento, onde é armazenado no silo então construído. Trata-se do Silo n° 1, erigido na esquina da nova artéria, a atual Avenida Rodrigues Alves, com a atual Rua Antônio Lage, e que se estende até a então Rua 12. Através de um passadiço, construído no segundo andar, é interligado com o edifício sucessivo, o Armazém 1, localizado do outro lado da Rua 12. Graças a esse estratagema, a esteira com o trigo pode andar diretamente do Silo n° 1 ao Armazém 1, passando acima da rua.

Projeto arquitetônico da fachada e dos Armazéns I e II. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
Armazém 1, 1920. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGEArmazém 2, 1920. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
I. Projeto arquitetônico da fachada e dos Armazéns I e II. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
II. Armazém 1, 1920. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
III. Armazém 2, 1920. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE

As criativas soluções, como as realizações arquitetônicas desse novo acréscimo, encontram respaldo no projeto original da fachada do Silo n° 1, hoje presente no Arquivo da Cidade. Nesse documento, além da data de sua apresentação, julho de 1912, está a construtora E. Kemnitz & Cia. como responsável pelo projeto. Embora não se tenham precisas informações sobre a relação de tal empresa, de origem alemã, com o Moinho Fluminense, o importante currículo da construtora e sua conexão, desde 1911, com o concreto armado justificam a escolha.81

Acerca do vocabulário estético construtivo utilizado na então reforma do Moinho Fluminense, a origem da firma Kemnitz & Cia. sugere a influência do historicismo alemão, movimento muito divulgado na época, tendo como principal autor o construtor eclético K. F. Schinkel. Obedece a esses princípios o tratamento dado à fachada do Silo nº 1, na atual Rua Antônio Lage, onde o embasamento em sulcos horizontais em concreto, parecendo pedra de cantaria, é interrompido pela sequência de janelas em arcos plenos.

Enquanto o torreão segue o mesmo tratamento, a ondulação da fachada da construção seguinte, correspondente a três andares, deixa transparecer a volumetria dos silos contidos no seu interior. Tal livre articulação entre o interior e o exterior da construção é sinal da chegada de uma nova era voltada à plena confiança nas técnicas e no progresso.

Mudanças arquitetônicas no Moinho Fluminense

1887: Prédio original do Moinho Fluminense, com cinco andares
1896: Construção do prédio da Administração
1912: Construção do Silo no 1, do túnel ligando o Porto ao Parque Industrial e do elevador para descarga dos Silos
1926: Construção do Silo no 2
1927: Construção do Silo no 4
1945: Construção da padaria
1949: Ampliação dos prédios de moagem
1954/1955: Construção do Silo no 3
1955/1956: Construção do Silo no 5
1965: Novo prédio para instalação da Sede da Administração
1966: Construção do Refeitório
1971: Construção da Nova Seção de Vendas
1986: Tombamento do prédio do Moinho
1987: Reforma na fachada do Moinho
2020-2025: Reformulação do projeto pela Autonomy Investimento
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Fachada do Moinho em 1913, após acréscimo de mais quatro andares sobre o original. ACERVO MIS – MUSEU DA IMAGEM E DO SOM/CENTRO DE MEMÓRIA BUNGESilo n° 2 em construção, 1927. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGEObras finais de construção do Silo n° 2, no ano de 1927. ACERVO MIS – MUSEU DA IMAGEM E DO SOM/CENTRO DE MEMÓRIA BUNGEEm 1912, é realizada a construção do Silo nº 1, do túnel ligando o porto ao parque industrial e do elevador para descarga dos silos. Foto de M. Rosenfeld, 1936. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGEMoinho Fluminense registrado em 1936. Foto de M. Rosenfeld. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGEVista dos Silos n° 1 e n° 2 e do Armazém 2 nos anos 1930. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE Alargamento do túnel 1 em 1930. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE.Vista geral do estabelecimento em 1936. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE.Silo n° 3 em construção, 1954-1955. acervo centro de memória bungeSilo n° 3 em construção, 1954-1955. acervo centro de memória bungeFotografia dos silos do Moinho Fluminense tomada do cais do porto do Rio de Janeiro, 1956. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE.A construção do Silo n° 5 foi realizada entre os anos de 1955 e 1956. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE.Fachada da unidade industrial da Moinho Fluminense S.A. Brasil. Foto de Meira S.A., 1952. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE.Vista dos armazéns no primeiro plano e Silo nº 3 à esquerda e ao fundo, visto da Rua Lajes. Foto de Helmut. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGEPrédios dos armazéns. Foto de Helmut. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGEReforma na fachada do Moinho, realizada em 1987. Foto de Helmut. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGEReforma na fachada do Moinho, realizada em 1987. Foto de Helmut. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGEReforma na fachada do Moinho, realizada em 1987. Foto de Helmut. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
I. Fachada do Moinho em 1913, após acréscimo de mais quatro andares sobre o original. ACERVO MIS – MUSEU DA IMAGEM E DO SOM/CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
II. Silo n° 2 em construção, 1927. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
III. Obras finais de construção do Silo n° 2, no ano de 1927. ACERVO MIS – MUSEU DA IMAGEM E DO SOM/CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
IV. Em 1912, é realizada a construção do Silo nº 1, do túnel ligando o porto ao parque industrial e do elevador para descarga dos silos. Foto de M. Rosenfeld, 1936. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
V. Moinho Fluminense registrado em 1936. Foto de M. Rosenfeld. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
VI. Vista dos Silos n° 1 e n° 2 e do Armazém 2 nos anos 1930. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
VII. Alargamento do túnel 1 em 1930. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
VIII. Vista geral do estabelecimento em 1936. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
IX e X. Silo n° 3 em construção, 1954-1955. acervo centro de memória bunge

XI. Fotografia dos silos do Moinho Fluminense tomada do cais do porto do Rio de Janeiro, 1956. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
XII. A construção do Silo n° 5 foi realizada entre os anos de 1955 e 1956. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
XIII. Fachada da unidade industrial da Moinho Fluminense S.A. Brasil. Foto de Meira S.A., 1952. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE.
XIV. Vista dos armazéns no primeiro plano e Silo nº 3 à esquerda e ao fundo, visto da Rua Lajes. Foto de Helmut. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
XV. Prédios dos armazéns. Foto de Helmut. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
XVI, XVII e XVIII. Reforma na fachada do Moinho, realizada em 1987. Foto de Helmut. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE



78. Além de farinha de trigo, o moinho produzia semolinas, farelo, entre outros, e começou a incluir a fabricação de massas alimentícia, assim como a produção de sacarias. (HISTÓRICO DO MOINHO FLUMINENSE. São Paulo: Centro de Memória Bunge, 2011. p. 7.)
79. Arquivo da Cidade. Documento: LO/1910 esc. 29, bloco 10, datado de 21 de julho de 1910. 
80. O novo porto do Rio de Janeiro: é inaugurado em 20 de julho de 1910 pelo Presidente Afonso Pena. In: BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: um Hausmann Tropical. A renovação urbana da cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, Divisão de Editoração, 1982. p. 225.
81. DEVECCHI, Alejandra Maria. Origens da verticalização em São Paulo. In: ______. Reformar não é construir: a reabilitação de edifícios verticais. Novas formas de morar em São Paulo no século XXI. São Paulo: Senac, 2019.