Maria Pace Chiavari
Ao crescer, o Moinho se moderniza
As modificações trazidas pelas obras do porto, bem como o crescimento da produção, se tornam incentivos para o Moinho Fluminense se renovar. Como primeira iniciativa, a diretoria, de acordo com os acionistas, delibera não distribuir os dividendos e acumular o capital para investir em obras de melhoramento e modernização.78 Em 1910, iniciam-se as reformas. Na primeira fase, aumenta-se o espaço de trabalho, acrescentando-se três pavimentos e um ático na parte onde a construção tinha dois pavimentos. É mantido o estilo original em tijolos maciços.79
Paralelamente, poucos meses depois da inauguração do porto,80 têm início as obras para a construção de um túnel capaz de restabelecer a conexão do Moinho com o mar, que a abertura da Avenida Caes do Porto, atual Rodrigues Alves, tinha interrompido.
Por meio dessa passagem subterrânea, escavada por baixo da tal nova avenida, o estabelecimento recupera o acesso direto ao mar e ao novo cais. Isso facilita o itinerário do trigo, que, uma vez descarregado do navio por meio de um elevador elétrico, e instalado no cais, passa através do túnel até chegar ao estabelecimento, onde é armazenado no silo então construído. Trata-se do Silo n° 1, erigido na esquina da nova artéria, a atual Avenida Rodrigues Alves, com a atual Rua Antônio Lage, e que se estende até a então Rua 12. Através de um passadiço, construído no segundo andar, é interligado com o edifício sucessivo, o Armazém 1, localizado do outro lado da Rua 12. Graças a esse estratagema, a esteira com o trigo pode andar diretamente do Silo n° 1 ao Armazém 1, passando acima da rua.
As criativas soluções, como as realizações arquitetônicas desse novo acréscimo, encontram respaldo no projeto original da fachada do Silo n° 1, hoje presente no Arquivo da Cidade. Nesse documento, além da data de sua apresentação, julho de 1912, está a construtora E. Kemnitz & Cia. como responsável pelo projeto. Embora não se tenham precisas informações sobre a relação de tal empresa, de origem alemã, com o Moinho Fluminense, o importante currículo da construtora e sua conexão, desde 1911, com o concreto armado justificam a escolha.81
Acerca do vocabulário estético construtivo utilizado na então reforma do Moinho Fluminense, a origem da firma Kemnitz & Cia. sugere a influência do historicismo alemão, movimento muito divulgado na época, tendo como principal autor o construtor eclético K. F. Schinkel. Obedece a esses princípios o tratamento dado à fachada do Silo nº 1, na atual Rua Antônio Lage, onde o embasamento em sulcos horizontais em concreto, parecendo pedra de cantaria, é interrompido pela sequência de janelas em arcos plenos.
Enquanto o torreão segue o mesmo tratamento, a ondulação da fachada da construção seguinte, correspondente a três andares, deixa transparecer a volumetria dos silos contidos no seu interior. Tal livre articulação entre o interior e o exterior da construção é sinal da chegada de uma nova era voltada à plena confiança nas técnicas e no progresso.
Mudanças arquitetônicas no Moinho Fluminense
1887: Prédio original do Moinho Fluminense, com cinco andares
1896: Construção do prédio da Administração
1912: Construção do Silo no 1, do túnel ligando o Porto ao Parque Industrial e do elevador para descarga dos Silos
1926: Construção do Silo no 2
1927: Construção do Silo no 4
1945: Construção da padaria
1949: Ampliação dos prédios de moagem
1954/1955: Construção do Silo no 3
1955/1956: Construção do Silo no 5
1965: Novo prédio para instalação da Sede da Administração
1966: Construção do Refeitório
1971: Construção da Nova Seção de Vendas
1986: Tombamento do prédio do Moinho
1987: Reforma na fachada do Moinho
2020-2025: Reformulação do projeto pela Autonomy Investimentos