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Maria Pace Chiavari


O mundo invisível


Vistas do Moinho Fluminense realizadas entre 2019 e 2021. Foto de Mauricio Hora.
Vistas do Moinho Fluminense realizadas entre 2019 e 2021. Foto de Mauricio Hora.

As formas arquitetônicas e urbanísticas, o comportamento de cada patrimônio industrial, segundo o historiador de arquitetura Franco Borsi, desenvolvem-se em função do ambiente, da cultura e da maturidade política do país ao qual o processo de industrialização está conexo.87 A resistência demonstrada até hoje pelo Moinho Fluminense se deve à sua própria história, à peculiar cultura da área portuária e à cidade do Rio de Janeiro, que soube reconhecer seu valor ao considerá-lo objeto de preservação. Além de importante referência no âmbito da história da industrialização do Brasil, o Moinho desenvolve em relação à cultura carioca o papel de documento-monumento, talvez indissociável da Praça da Harmonia.

Nos dias atuais, a definição de “arqueologia industrial” é colocada em questão, entre outros aspectos, pela dificuldade de conciliarmos a imobilidade, sugerida pela fórmula tradicional de conservação do patrimônio, e o dinamismo dos processos produtivos, cuja sobrevivência se baseia na contínua mudança e substituição. Além disso, parâmetros sociais e culturais que envolvem o patrimônio industrial têm merecido pouca consideração.88

A ideia de arqueologia industrial sugere um exercício de recuperação da memória conexa ao trabalho e aos trabalhadores, bem como à vida e à organização social que existiram dentro e fora do espaço de trabalho que as formas arquitetônicas ainda refletem.89 O heterogêneo conjunto desses importantes fatores se apresenta como mundo invisível. E este tem um papel tão importante quanto o do mundo visível, por relacionar a estrutura industrial com a história da empresa, o ambiente, o território e a cidade.90

Vistas do Moinho Fluminense realizadas entre 2019 e 2021, com drone. Foto Mauricio Hora.Vistas do Moinho Fluminense realizadas entre 2019 e 2021. Foto de Mauricio Hora.Vistas do Moinho Fluminense realizadas entre 2019 e 2021. Foto de Mauricio Hora.
I. Detalhe do Moinho Fluminense, 2020. Foto de Mauricio Hora.
II, e III. Vistas do Moinho Fluminense realizadas entre 2019 e 2021. Foto de Mauricio Hora.



87. BORSI, Franco. Introduzione all’arqueologia industriale. Roma: Officina Edizioni, 1978. p. 10.
88. PALMER, Marilyn; NEAVERSON, Peter. Industrial Archeology: Principles And Practices. Londres: Routledge, 1998.
89. MENEGUELLO, Cristina. Patrimônio industrial como tema de pesquisa. In: Anais do I Seminário Internacional História do Tempo Presente. Florianópolis, 2011. Disponível em: <http://eventos.udesc.br/ocs/index.php/STPII/stpi/paper/viewFile/313/234>.
90. PREITE, Massimo; MACIOCCO, Gabriella; MAMBRINI, Sauro; MAMBRINI, Stelvio. Arqueologia industrial in Amiata. Il recupero del patrimônio minerário, la bonifica del siele e la costuzione del parco. Florença: Alinea Editrice, 2002. p. 14-15.