Maria Pace Chiavari
O mundo invisível
As formas arquitetônicas e urbanísticas, o comportamento de cada patrimônio industrial, segundo o historiador de arquitetura Franco Borsi, desenvolvem-se em função do ambiente, da cultura e da maturidade política do país ao qual o processo de industrialização está conexo.87 A resistência demonstrada até hoje pelo Moinho Fluminense se deve à sua própria história, à peculiar cultura da área portuária e à cidade do Rio de Janeiro, que soube reconhecer seu valor ao considerá-lo objeto de preservação. Além de importante referência no âmbito da história da industrialização do Brasil, o Moinho desenvolve em relação à cultura carioca o papel de documento-monumento, talvez indissociável da Praça da Harmonia.
Nos dias atuais, a definição de “arqueologia industrial” é colocada em questão, entre outros aspectos, pela dificuldade de conciliarmos a imobilidade, sugerida pela fórmula tradicional de conservação do patrimônio, e o dinamismo dos processos produtivos, cuja sobrevivência se baseia na contínua mudança e substituição. Além disso, parâmetros sociais e culturais que envolvem o patrimônio industrial têm merecido pouca consideração.88
A ideia de arqueologia industrial sugere um exercício de recuperação da memória conexa ao trabalho e aos trabalhadores, bem como à vida e à organização social que existiram dentro e fora do espaço de trabalho que as formas arquitetônicas ainda refletem.89 O heterogêneo conjunto desses importantes fatores se apresenta como mundo invisível. E este tem um papel tão importante quanto o do mundo visível, por relacionar a estrutura industrial com a história da empresa, o ambiente, o território e a cidade.90
II, e III. Vistas do Moinho Fluminense realizadas entre 2019 e 2021. Foto de Mauricio Hora.