Mark

Robert Gibbins, Roberto Miranda de Lima e Carlos Mateos
Autonomy Investimentos




Um presente. Esta é a palavra que melhor define o que a Autonomy Investimentos encontrou ao se deparar com o Moinho Fluminense e, em 2019, concluir sua aquisição. E um presente é o que pretendemos entregar para a cidade do Rio de Janeiro nos próximos anos, ao finalizarmos o projeto de requalificação deste que é um dos raros patrimônios histórico-industriais do país.
   
Este livro é um dos presentes que integram este pacote. Ele conta a história de um encontro. Um encontro entre empresários que projetam o futuro e uma joia do passado carioca e nacional. Ele faz um resgate histórico da ocupação do Rio de Janeiro desde os tempos coloniais, sobretudo da região portuária, para mostrar como a cidade nasceu do porto e, a partir do porto, está renascendo. Temos assim o pano de fundo necessário para que as memórias em torno do Moinho, a primeira fábrica de moagem industrial do Brasil e patrimônio tombado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), venham à tona. É um livro que traz aquilo que queremos que seja a tônica do nosso projeto para as quatro quadras que o Moinho abrange: a convivência harmônica entre o passado, o presente e o futuro.
   
Erguido pelos irmãos Carlos e Leopoldo Gianelli, uruguaios de ascendência italiana, e entregue à população do Rio de Janeiro e do país em 1887, tendo seu funcionamento sido outorgado pela princesa Isabel, o Moinho está localizado na região portuária do Rio de Janeiro, entre o Cais do Valongo, porta de entrada de milhares de africanos escravizados no século XIX, e a primeira favela do Brasil, o Morro da Providência. Testemunha e motor do desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro, o Moinho foi palco de importantes fatos históricos, como a Revolta da Armada e a Revolta da Vacina, e até meados de 2016 produziu toneladas que abasteceram um país que aos poucos substituiu a farinha de mandioca pelo trigo.

Um moinho é sinônimo de transformação e movimento. E esta é a forma como a Autonomy entende seus empreendimentos, pois transformar está em nosso DNA: transformarmos investimentos em cidades mais valiosas para se viver. É o que pretendemos realizar na área do Moinho: uma mudança vigorosa, mas respeitosa, que beneficie a cidade e, consequentemente, as pessoas que ali vivem, trabalham e circulam. Assim, ao adquirir o Moinho e ao lançar este livro, assumimos aqui uma série de compromissos.

Compromisso, primeiramente, de zelar pela história. Este livro mergulha fundo nas memórias desta região icônica do Rio de Janeiro, mostrando como ela sempre foi vital para a cidade: foi por conta do porto que escoava o açúcar e depois as produções mineiras das gerais que a cidade do Rio de Janeiro cresceu em população e pujança. Foi neste porto que desembarcaram mais de 500 mil escravos que ajudaram a construir este país, sendo o Cais do Valongo Patrimônio da Humanidade por ser a única área do mundo em que se tem registro de desembarque de escravos. O porto foi também porta de entrada das manufaturas que abasteceram as ricas cidades mineiras. Foi por ali que chegou a família real portuguesa, trazendo seu aparato de governo que fez do Rio de Janeiro a capital do Império português. É ainda nesta região que temos a grande Pequena África, nomeada assim por reunir, em sua peculiar geografia, os negros da Bahia que, perseguidos pelas práticas do candomblé, ali se instalaram, as tias baianas, os escravos libertos e os fugitivos, gerando um caldo cultural que, entre outras riquezas, deu vazão ao samba de roda. E o Moinho, inserido nessa região, é, mais que um ambiente construído, um dos poucos registros materiais da forma de projetar e construir do final do século XIX no Brasil. Se toda cidade se faz por caminhos, o porto é o percurso inexorável do Rio de Janeiro com o Brasil e com o restante do mundo. A Autonomy sabe da responsabilidade que é projetar o futuro em um espaço com essa relevância histórica. É uma responsabilidade, um orgulho e um compromisso sermos os zeladores dessas memórias. Queremos, portanto, que nossa intervenção não apenas respeite, mas ajude a contar essa história.

Compromisso com a sustentabilidade. Os projetos e obras da Autonomy têm sido feitos dentro dos melhores parâmetros ambientais. É essa a experiência que levaremos para o Moinho, sem dúvida um projeto desafiador, mas que já parte de uma inegável vantagem ambiental: ao aproveitarmos uma edificação existente, geraremos uma quantidade de resíduos muito inferior se comparada a uma nova edificação, evitando ainda o uso de novos recursos naturais. Vamos partir dessa ideia para chegar a uma certificação LEED pelo retrofit de um edifício industrial tombado. É ousado. Mas é real. E está totalmente alinhado com as metas e objetivos da Autonomy.

Compromisso com o entorno. O Moinho nos permite atuar como vetor de desenvolvimento da região em que ele está implantado, dentro do projeto Porto Maravilha. A área, que nunca perdeu importância na cidade, ganhou novo olhar e investimentos a partir de 2009, quando a Operação Urbana Consorciada da região portuária do Rio de Janeiro foi instituída para dar sustentação às propostas de revitalização econômica e social da área de cinco milhões de metros quadrados. Sem dúvida uma das principais áreas de desenvolvimento imobiliário do Rio de Janeiro, a região da Gamboa tem acolhido uma série de edificações culturais, turísticas e empresariais, além de profundas intervenções urbanas. O Moinho vai se integrar a esse movimento, constituindo espaço de trabalho e experiência para as empresas que querem transformar suas culturas. Ter a chance de repor um ativo do século XIX hoje é oportunidade fantástica. Contribuir para o desenvolvimento de toda aquela região do Rio de Janeiro é um sonho que tornaremos factível.

Compromisso com as pessoas. Tanto as pessoas que historicamente habitaram e frequentaram a região e seu entorno, garantindo a preservação da herança africana na cidade, quanto os turistas, que cada dia mais visitam a região em busca da diversidade, da história, das belezas naturais e aquelas do ambiente construído que marcam a região da Gamboa. A ideia da Autonomy é reintegrar o Moinho ao espaço e à cultura local, entendendo sua expressão e suas necessidades. Queremos que as pessoas façam parte desse espaço, que não se sintam estrangeiros ali dentro. Para criar essa sensação de pertencimento, estamos, desde já, integrando a comunidade. É por isso que já participamos de projetos ali instalados, como aqueles que atendem crianças da Providência nas áreas de cultura, arte e alimentação, e iniciamos conversas com a comunidade para construirmos juntos esse futuro.

São compromissos que norteiam nosso trabalho. E a visão mais inovadora que a Autonomy traz para esse projeto é a sustentabilidade da comunidade com a qual esse projeto está em constante diálogo. O diálogo, conforme a palavra determina, tem como pressuposto a troca. E aqui se funda a nossa história na história do Moinho: começamos nosso projeto respeitando isso mais que tudo. Porque é papel da Autonomy tentar posicionar seus investimentos na vanguarda da sustentabilidade. Mas a verdadeira sustentabilidade está na sustentabilidade da comunidade.

Quando começamos, tivemos a sorte de conhecer algumas pessoas da comunidade que quiseram debater e nos contaram quais eram os desafios e as percepções em torno dos empreendimentos que estão ali sendo edificados. Elas nos permitiram aprender, e todas aquelas conversas nos ajudaram a pensar no desenvolvimento do projeto, a refletir sobre o que poderíamos agregar ao seu conceito, de forma a torná-lo único, de maneira a fomentar a criatividade, esse patrimônio brasileiro. E este é um projeto grande o suficiente, tanto em termos físicos quanto de impacto cultural, para que juntos possamos fazer a transformação esperada.

O que vislumbramos, afinal, para a região nos próximos anos? O que vemos quando olhamos para o futuro dessa área tão importante que adquirimos e pela qual tanto queremos zelar?

Visualizamos um espaço múltiplo e flexível, em que pessoas, empresas, cultura e comunidade estejam em sintonia. Vemos profissionais que saem de seu espaço de trabalho e podem percorrer uma exposição de arte no prédio ao lado, que se abre para uma livraria ou um jardim. Vislumbramos movimento. Entrevemos experiências significativas ocorrendo nesses espaços.

Se por um lado temos o desenvolvimento real da edificação, que será iniciado pelos blocos que estão mais próximos do mar, por outro há as intervenções artísticas e culturais que estamos acolhendo, de forma que todo o imóvel realmente volte à vida. O Brasil tem uma cultura muito rica, isso é inegável. Queremos que o Moinho reflita isso. E uma das frentes é trazendo artesãos, artistas e empreendedores, dando a eles uma voz mais forte. Parte do projeto deve definitivamente ser pensada e desenvolvida para que eles possam ter a visibilidade que precisam, o que é bom para a comunidade, assim como também é para o projeto e para as empresas que ali estarão instaladas.



Estamos valorizando o maquinário dos séculos XIX e XX para que ele possa continuar a fazer parte da identidade desse novo espaço, criando a consciência de como a arte pode interagir com a comunidade. São ações nessa direção que dão o tom de como pensamos o Moinho, a partir da verdadeira diversidade, das artes visuais e em todas as diferentes formas de experiências e atividades. Então a nossa grande contribuição será criar um espaço que reúna essa multiplicidade, um espaço acolhedor que fomente a capacidade de criar dessa comunidade.
   
A sustentabilidade da comunidade é definitivamente uma expressão que reflete como olhamos nossos investimentos. Não se trata apenas de construir um prédio residencial ou de escritórios e deixar as consequências para trás, mas aportar investimentos para produzir uma transformação real e que gere frutos para todos os envolvidos.
   
Ao apresentarmos este livro, se faz ainda mais latente o presente que o Moinho representa para a Autonomy. O projeto expande os nossos conhecimentos, ao mesmo tempo que nos permite expressar os nossos pilares, as nossas crenças e o nosso objetivo, mostrando que é possível transformar investimentos em cidades valiosas para viver, desenvolvendo um empreendimento e engajando a sua população. Esperamos que este trabalho minucioso de pesquisa que o livro traz ofereça ao leitor a dimensão do que é o Moinho e de como as cidades são vivas, impulsionadas ao longo da história por pessoas visionárias e suas transformações.



FICHA TÉCNICA




Realização
    Autonomy Investimentos

Edição e produção
    Automatica Edições

Coordenação editorial
    Luiza Mello | Automatica
    Marisa S. Mello | Automatica
    Caroline Bertoldi | Autonomy

Textos
    Augusto Ivan de Freitas Pinheiro
    Eliane Canedo
    Maria Pace Chiavari
    Piedade Grinberg

Pesquisa e colaboração texto “A cidade e o porto”
    Cristiane Titoneli


Pesquisa e colaboração texto “apresentação”
    Lígia Helena Micas
    Rodrigo Magalhães

Ensaio fotográfico Moinho Fluminense
    Mauricio Hora

Projeto gráfico e diagramação
    Radiográfico

Pesquisa de imagens
    Marisa S. Mello | Automatica
    Emily Cardoso


Assistente de produção
    Ana Pimenta | Automatica

Revisão
    Duda Costa

Versão para o inglês
    Marília Rebello & Associados Ltda.

Escaneamento de imagens
    GFK Comunicação

Tratamento de imagens e impressão
    Ipsis

Acervos iconográficos
    Arquivo da Marinha | DPHDM – Marinha do Brasil
    Acervo do Jornal O Globo | Agência O Globo
    Acervos dos Museus Castro Maya| IBRAM
    Casa Geyer – Museu Imperial| IBRAM
    Centro de Memória Bunge
    Instituto Moreira Salles
    Museu da Imagem e do Som
    Museu de Arte Moderna | MAM SP
    Portal Augusto Malta. Coleção Prefeitura do Distrito Federal | Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
    Reminiscências Pesquisa e Produção Cultural

Agradecimentos
    Arquivo da Marinha | DPHDM – Marinha do Brasil
    Acervos dos Museus Castro Maya| IBRAM
    Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
    Casa Geyer – Museu Imperial| IBRAM
    Fundação Bunge | Centro de Memória Bunge 


AUTORES

Augusto Ivan de Freitas Pinheiro


Arquiteto e urbanista pós-graduado em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pelo Institute for Housing Studies, Roterdã. É ex-coordenador do projeto Corredor Cultural do Centro do Rio de Janeiro, ex-professor de Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), ex-secretário de Urbanismo da Cidade do Rio de Janeiro e ex-presidente do Instituto Rio Patrimônio Cultural da Humanidade. É autor de diversos livros, ensaios e artigos sobre a cidade do Rio de Janeiro. Foi contemplado com a Medalha Mario de Andrade do IPHAN em 2017.

Eliane Canedo de Freitas Pinheiro


Arquiteta e urbanista pós-graduada em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pelo Institute for Housing Studies, Roterdã. Ex-subsecretária de Estado de Meio Ambiente, consultora do Centro de Pesquisas Urbanas do Instituto Brasileiro de Administração Municipal, ex-integrante do Programa de Cidades Históricas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e consultora do Centro de Pesquisas Urbanas do Instituto Brasileiro de Administração Municipal. É autora de diversos livros, ensaios e artigos sobre a cidade do Rio de Janeiro.

Cristiane Titoneli


Graduada em Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), pós-graduada em Direito Civil Constitucional pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pós-graduada em Direito Urbanístico e Ambiental pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) (em andamento). Atualmente, é assessora do Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Foi pesquisadora colaboradora do livro Baía de Guanabara e coautora do livro Leblon, ambos pela editora Andrea Jakobsson Estúdio.

Maria Pace Chiavari


Arquiteta, graduada pela Università degli Studi di Firenze, doutora em Urbanismo pelo Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PROURB UFRJ) e cidadã benemérita do Rio de Janeiro. Como pesquisadora, concentrou seus estudos sobre o desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro nos séculos XIX e início do XX, a salvaguarda do seu patrimônio e a presença dos italianos no Brasil. Autora do livro Rio de Janeiro: preservação e modernidade, participou de diversas outras publicações em livros, catálogos e revistas. Atualmente, investiga o papel desenvolvido pela “fotografia pública” nos primórdios do urbanismo carioca.


Piedade Epstein Grinberg


Pós-graduada em História da Arte e Arquitetura no Brasil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e mestre em História e Crítica da Arte pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA UFRJ). Foi professora de História da Arte no curso de Arquitetura na PUC-Rio de 2000 a 2016 e diretora do Solar Grandjean de Montigny – Museu Universitário da PUC-Rio de 1993 a 2018. Autora de Bruno Giorgi 1905-1993; Di Cavalcanti: um mestre além do cavalete; e Sergio Camargo, construtor de ideias, entre muitos outros, publicou ainda capítulos em livros, revistas e catálogos de exposições. Atua como pesquisadora e curadora, em temas como arte, artistas e arquitetura, com especial atenção aos séculos XIX ao XXI.