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Augusto Ivan de Freitas Pinheiro e Eliane Canedo
Pesquisa e colaboração: Cristiane Titoneli


Do Castelo para a Várzea


No alvorecer do século XVIII, vencidos os corsários, a mineração recomeça a movimentar a economia colonial. O porto do Rio de Janeiro ganha evidência e poder como escoadouro das lavras das Minas Gerais, cuja produção descia desde Ouro Preto pelo Caminho Novo até chegar ao Porto Estrela, na orla da Baía de Guanabara.

A cidade também descia: do alto do antigo Morro da Saudade (Castelo, hoje demolido), espichava-se pela várzea a primeira rua da urbe, a Rua Direita, do Castelo ao São Bento (atual Primeiro de Março). Era ela então na realidade um prolongamento da Ladeira da Misericórdia, da primitiva cidade, que se prolongava na direção do São Bento e das terras distantes e ainda não ocupadas na vertente norte do sítio, acobertadas pela suave cordilheira dos morros da Saúde, do Livramento, da Providência, do Pinto e de São Diogo.

A Rua Direita era o eixo mais importante para alcançar o interior da baía e as terras próximas do Castelo, mas não era o único. Logo em seguida, já se insinuavam outros caminhos como o do Capueruçu (Rua da Alfândega) e o de Mata-Cavalos (Rua do Riachuelo). Estes partiam em direção ao noroeste, onde estavam os engenhos de cana-de-açúcar dos jesuítas e, ao sul, a partir da Ladeira da Ajuda, pelo Caminho do Catete, estendia-se ao longo das terras de Botafogo até encontrar o Engenho d’El Rei (atual Lagoa). Esta era a estrutura básica da cidade e que ainda hoje se constitui no marco seminal da organização, da circulação e do funcionamento da metrópole.

O século XVIII ficaria gravado no Rio de Janeiro como o século do ouro, dos ataques dos corsários franceses, da construção dos aquedutos e dos chafarizes, dos engenhos, do poderio das ordens religiosas, dos vice-reis, da transferência da capital colonial de Salvador para o Rio de Janeiro (1763). Foi também o século do crescimento da atividade comercial e da intensificação do tráfico de escravos para os trabalhos nas minas de ouro, nos engenhos de cana-de-açúcar e nas atividades domésticas. O século das construções marcantes dos Aquedutos da Carioca, do Largo do Paço, do Paço dos Governadores, das igrejas do Carmo, da Cadeia Velha, da modernização do porto em frente ao Paço.

Durante muito tempo, quatro complexos religiosos dominaram a paisagem para quem chegava nas embarcações vindas de fora e fundeadas na Baía de Guanabara. Em frente ao Paço dos Vice-Reis, desembarcavam e embarcavam pessoas e mercadorias que eram transportadas em canoas e chalupas desde as caravelas até o cais de pedra e o Chafariz da Pirâmide, que guarneciam a frente marítima da antiga Praia de Manuel de Brito.