Mark

Maria Pace Chiavari


Sob nova direção: o Grupo Bunge e o ambicioso projeto


Planta geral do estabelecimento do Moinho Fluminense, 1940. acervo centro de memória bunge
Planta geral do estabelecimento do Moinho Fluminense, 1940. acervo centro de memória bunge

A aquisição do Moinho Fluminense pelo Grupo Bunge, em 1914, traz importantes inovações. A primeira é tornar o funcionamento do Moinho mais eficiente. São previstos pela nova diretoria importantes investimentos em modernos maquinários e, como consequência, a inovação e a ampliação da construção existente. Esses grandes esforços encontram o primeiro reconhecimento por ocasião da Exposição Internacional de 1922, em comemoração ao centenário da Independência do Brasil. Nessa circunstância, o Moinho Fluminense, ao exibir os resultados conseguidos em nível nacional, recebe um prêmio e a medalha de ouro.82

No que concerne ao processo construtivo, voltado à ampliação das estruturas, a leitura dos numerosos projetos permite dar conta da sucessão de obras realizadas até o Moinho adquirir o atual aspecto. Em muitos desses documentos, torna-se difícil identificar os assinantes responsáveis. Ficamos, entretanto, surpresos ao encontrar, no projeto relacionado à construção do novo moinho, apresentado em 1926, entre as diferentes assinaturas, o nome de Leopoldo Gianelli.83 Esse fato vem confirma a permanência do irmão de Carlo Gianelli, na qualidade de diretor-presidente da S.A. Moinho Fluminense, até seu falecimento, que se verifica em 1927.84

Entre os numerosos desenhos, chama a atenção o prospecto que apresenta a sequência das fachadas, respectivamente do Silo nº 1, do Armazém n° 1 e do Armazém n° 2.

É caraterística desse trecho do Moinho Fluminense a alternância entre o cheio, formado pelas novas edificações, e o vazio, resultado das ruas que as separam. Em lugar de uma ruptura entre os dois elementos, percebe-se existir um diálogo, produzido pela sucessão de passadiços. Trata-se de elementos construtivos que, enriquecidos por sua decoração, conferem elegância e leveza ao conjunto industrial. Devido ao interesse suscitado no público, tais pontes suspensas assumiram o papel de referências do próprio Moinho. É bom lembrar que esses instrumentos, utilizados para passar diretamente de um prédio a outro, a uma determinada altura, não são resultado de uma cenografia teatral, mas as respostas às exigências da indústria. No caso do Moinho Fluminense, é tarefa dos passadiços facilitar a conexão entre blocos do estabelecimento para que o percurso da esteira que transporta o trigo do silo ao moinho se torne mais rápido e direto. No uso da concepção estética como solução às exigências técnicas, está o sentido do patrimônio industrial.

No âmbito do processo de modernização de que se investe o Moinho, acontece a introdução de novas máquinas, como o Moinho nº 2, e da seção de venda direta.

Abandonam-se, assim, os antigos hábitos, criados pelos irmãos Gianelli, de se valer de intermediários para a venda.

Novas atividades induzem investimentos, tanto em propaganda como em modernas instalações, fazendo com que o estabelecimento alcance uma amplidão que só as vistas aéreas conseguem abranger.

Merece ser assinalado o Silo n°3 (1954-55), devido ao desenho inovador, com altura excepcional para a época e encabeçado por um gigantesco letreiro em ferro que assume até hoje destaque no panorama da área portuária.

Nos anos 1970, o Moinho Fluminense colhe os frutos dos importantes investimentos realizados. Ele se destaca, nos setores da moagem e de alimentos, como o maior produtor de todo o Hemisfério Sul.85 Ao brilhante resultado econômico obtido pelo estabelecimento, junta-se, nos anos 1980, o reconhecimento, por parte do Departamento Geral do Patrimônio Cultural do Município do Rio de Janeiro, do seu valor de patrimônio arquitetônico, artístico e cultural. No ato, realizado em 23 de agosto de 1986, são declarados objetos de tombamento os prédios do Moinho Fluminense situados na Rua Sacadura Cabral, nº 290, e na Rua Antônio Lage, inclusive as pontes. Como resposta ao ato de sua integração oficial no patrimônio carioca, em 1987, ano do centenário do Moinho Fluminense, a diretoria delibera um copioso investimento destinado à recuperação da antiga Praça da Harmonia.86 Com o mesmo espírito, em 2011, o Moinho engaja-se no projeto voltado à recuperação da sua fachada original no âmbito do projeto Porto Maravilha, em vista da revitalização urbana dessa área.



82. HISTÓRICO DO MOINHO FLUMINENSE. São Paulo: Centro de Memória Bunge, 2011. p. 8.
83. Projeto presente no Arquivo da Cidade.
84. HISTÓRICO DO MOINHO FLUMINENSE. São Paulo: Centro de Memória Bunge, 2011.
85. Idem, p. 10.
86. Idem, p. 12. O valor do investimento foi de US$ 120 mil dólares.