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Augusto Ivan de Freitas Pinheiro e Eliane Canedo
Pesquisa e colaboração: Cristiane Titoneli


Sob o signo do ouro


Vista de uma parte da Rua Direita, atual Rua Primeiro de Março. Godefroy Engelmann. ACERVO CASA GEYER/MUSEU IMPERIAL/IBRAM
Vista de uma parte da Rua Direita, atual Rua Primeiro de Março. Godefroy Engelmann. ACERVO CASA GEYER/MUSEU IMPERIAL/IBRAM

Pode-se afirmar que o século XVI se encerra no Brasil com a descoberta do ouro nas Minas Gerais e com a expulsão do Forte Coligny dos franceses de Villegagnon, sepultando para eles o sonho de uma França Antártica.

Para a cidade recém-nascida, a consequência imediata foi a transferência dos duzentos habitantes da pequena vila de São Sebastião em 1567, da insegura paliçada erguida pelos portugueses entre os morros Pão de Açúcar e Cara de Cão para os altos mais seguros e vigilantes do Morro da Saudade ou de São Januário, depois batizado Morro do Castelo. Ali estariam protegidos do inóspito ambiente das terras alagáveis, dos indígenas Tamoios (habitantes originários das terras da Guanabara) e dos ataques dos huguenotes franceses, e poderiam vigiar o acesso da Baía de Guanabara, evitando os visitantes hostis estrangeiros.

A partir daquele sítio, a cidade se expandiria para a várzea e realizaria as melhorias necessárias em seu novo porto. Este se desenvolveria ao longo da Praia de Manuel de Brito entre a fortaleza de Santiago (depois Ponta do Calabouço) até os contrafortes do morro de mesmo nome (São Bento), onde, em meados do século XVII, os monges beneditinos fariam moradia, mosteiro e igreja.

O grande descampado, onde hoje é a Praça XV de Novembro, não existia e foi sendo construído ao longo do tempo por meio de avanços improvisados sobre a baía e, no século XVII, por aterros. Durante mais de um século, os que chegavam por mar desembarcavam na pioneira Rua Direita, em frente ao Terreiro do Carmo.

Nesta primeira fase de expansão, que durou quase todo o século XVII, a cidade ganhou a forma de um quadrilátero, tendo como limites quatros morros: do Castelo, de São Bento, de Santo Antônio e da Conceição.

Banhando os pés do Morro de São Bento, um grande alagado estendia-se, de um lado, até a base do Morro do Castelo e, de outro, ao sopé do Morro da Conceição, que, então, era muito afastado da várzea para onde a cidade se expandia.

Até mesmo a região onde hoje estão os bairros da Saúde, da Gamboa e de Santo Cristo era, à época, uma pequena faixa de areia colada à orla da baía e se estendia até a Praia Formosa, situada no Saco de São Diogo. Por isso, as encostas dos morros do Livramento e da Conceição, apesar de ocupadas por algumas chácaras, eram tidas como arrabaldes da cidade, contando com precárias ligações com a malha urbana.

Naquele momento (1660), a cidade contava com 3.850 habitantes, sendo cerca de 3 mil indígenas, 750 portugueses e 100 negros, e ostentava o título outorgado por D. João IV de Muy Leal, o que lhe conferia grande importância na hierarquia das cidades do Brasil colonial.7



7. PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas; AMORA, Ana Maria Albano Gadelha; JARDIM, Rachel. Guia histórico do Centro da cidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. Rioarte, 1991.