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Augusto Ivan de Freitas Pinheiro e Eliane Canedo
Pesquisa e colaboração: Cristiane Titoneli


Corsários franceses na baía


Duguay-Trouin forçando a entrada no Rio de Janeiro. Ferdinand Perrot, 1844. ACERVO CASA GEYER/MUSEU IMPERIAL/IBRAM
Duguay-Trouin forçando a entrada no Rio de Janeiro. Ferdinand Perrot, 1844. ACERVO CASA GEYER/MUSEU IMPERIAL/IBRAM

A área portuária era, portanto, o local onde se movimentava não apenas um enorme volume de produtos, mas, principalmente, muito dinheiro. Para evitar saques, piratarias e contrabando, D. João IV criou em 1649 a Companhia Geral de Comércio, que determinava quem poderia ou não fornecer mercadorias através do porto, e ainda exercia um rígido controle sobre as exportações, que eram pesadas e taxadas por funcionários do governo, pois a Coroa detinha o monopólio dessas transações.

A segurança dessa região em torno da Baía de Guanabara era reforçada por quinze edificações fortificadas e todas dotadas de baterias de canhões: Fortaleza de São João e Forte de São Teodoro, na Urca; Fortaleza da Laje; Fortaleza de Santa Cruz, Fortaleza da Praia de Fora e Forte da Boa Viagem, todas em Niterói; Fortaleza de São Sebastião, no alto do Morro de Santo Antônio; Forte da Misericórdia, no alto do Morro do Castelo; Forte São Tiago, aos pés do Morro do Castelo; Fortaleza de Santa Luzia, na Praia de Santa Luzia; Fortaleza da Ilha das Cobras; Fortaleza N. S. da Conceição, no Morro da Conceição; Forte de Villegagnon; Fortaleza da Praia Vermelha e até o Mosteiro de São Bento, onde haviam sido instaladas barricadas e quatro baterias de canhões.

De acordo com as palavras do próprio Duguay-Trouin – corsário francês com carta do rei Luís XIV, que em 1711 fez a cidade pagar um alto resgate para ser liberada do cerco imposto por seus cerca de 3 mil homens –, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro era uma verdadeira fortaleza. Mesmo bem protegida, o corsário conseguiu desembarcar ao largo da baía e na retaguarda da cidade, no Saco do Alferes, ocupando posteriormente a linha dos montes de São Diogo e da Gamboa. Só depois de haver sofrido tal derrota, o governo brasileiro verificou que havia risco de novos ataques e decidiu reforçar ainda mais a segurança do Rio de Janeiro com novas baterias de canhões e fortalezas como a da Conceição, no alto do morro de mesmo nome, na região da Saúde, Freguesia de Santa Rita.

Algoz da cidade do Rio de Janeiro, mas herói na França – cuja estátua permanece ainda hoje em Saint-Malo, sua cidade natal –, Duguay-Trouin, comandante em chefe da invasão francesa em 1711, anotou em suas memórias: “a Baía do Rio de Janeiro é fechada por uma embocadura, um quarto mais estreita que a de Brest. No meio deste estreito há um grande rochedo que obriga as embarcações a se colocarem ao alcance de um disparo de fuzil, em relação aos fortes que defendem a sua entrada pelos dois lados.”10



10. DUGUAY-TROUIN, René. Memórias do Senhor Duguay Trouin. Brasília: Ed. UnB, 2003. p. 147.