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Piedade Grinberg


Moinho Fluminense nas lentes dos mais importantes fotógrafos do Rio de Janeiro


Nesta foto do final do século XIX, de Marc Ferrez, à esquerda, veem-se as velhas docas antes da construção do cais atual. Onde estão atracados os barcos e navios, hoje se localizam a Av. Rodrigues Alves e a Av. Venezuela, em área aterrada pelo prefeito Pereira Passos em 1906. Naquela época, um dos lados e os fundos do Moinho eram banhados pelo mar e ali atracavam os barcos pequenos que abasteciam de trigo suas máquinas de moagem. O prédio foi erguido neste local basicamente com a finalidade de facilitar o recebimento do trigo, que vinha todo por mar. À direita, o edifício quadrangular e o mercado da Praça da Harmonia, em funcionamento desde 1856. Juntamente com o da Praça XV e o da Glória, constituíam os três únicos negócios do gênero existentes na cidade. Ao fundo, da direita para a esquerda, os morros do Livramento e da Conceição, vários trapiches, os armazéns das docas nacionais, o Morro de São Bento e a Ilha das Cobras. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE
Nesta foto do final do século XIX, de Marc Ferrez, à esquerda, veem-se as velhas docas antes da construção do cais atual. Onde estão atracados os barcos e navios, hoje se localizam a Av. Rodrigues Alves e a Av. Venezuela, em área aterrada pelo prefeito Pereira Passos em 1906. Naquela época, um dos lados e os fundos do Moinho eram banhados pelo mar e ali atracavam os barcos pequenos que abasteciam de trigo suas máquinas de moagem. O prédio foi erguido neste local basicamente com a finalidade de facilitar o recebimento do trigo, que vinha todo por mar. À direita, o edifício quadrangular e o mercado da Praça da Harmonia, em funcionamento desde 1856. Juntamente com o da Praça XV e o da Glória, constituíam os três únicos negócios do gênero existentes na cidade. Ao fundo, da direita para a esquerda, os morros do Livramento e da Conceição, vários trapiches, os armazéns das docas nacionais, o Morro de São Bento e a Ilha das Cobras. ACERVO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE

Poucas vezes o Brasil pareceu tão atraente a geógrafos, naturalistas, botânicos, artistas e viajantes de todo tipo como naqueles anos que imediatamente se seguiram à chegada da corte e abertura dos portos a partir de 1808.

Assim, nas memórias, nas narrativas e na iconografia dos inúmeros viajantes – pinturas, desenhos, gravuras, esboços, estudos, croquis, estampas –, como nos anúncios de jornais ou nos registros policiais, no mobiliário, trajes, peças de decoração, moedas etc., é possível flagrar a entrada desse novo mundo que aflui à cidade do Rio de Janeiro e a outras cidades importantes do Brasil no início do século XIX.

A Missão Artística Francesa, as Viagens Filosóficas e as Expedições Científicas propiciaram a vinda de cientistas e artistas europeus como Martius e Spix, Langsdorff e Johann Moritz Rugendas, Thomas Ender, Planitz, Jean-Baptiste Debret, Nicolas-Antoine Taunay e muitos outros que se manifestaram num volume sem precedentes de produção de narrativas e de imagens sobre o cotidiano da cidade e do seu entorno, nas quais também o novo panorama comercial da capital tropical estará presente.

Assim, ao lado de viajantes, também comerciantes e diplomatas instalados na corte como Luccock, Richard Bate, Tully, Orseley, James Henderson, Chamberlain, Maria Graham, entre outros, vão nos legar escritos e ilustrações sobre a cidade em que viveram, ainda que temporariamente.

Viajantes e cientistas, muitos deles artistas amadores e das mais variadas profissões, contribuíram para uma afirmação consciente e pública da nacionalidade brasileira e para a descoberta de um mundo novo registrado com fascínio e estranhamento, mas com um sentido de observação cuidadosa e meticulosa.

Junto com os estrangeiros, chegaram os ofícios antes desconhecidos, marcando a abertura de uma fase de cosmopolitismo da cidade, transformando o comércio e criando novas necessidades, hábitos, usos e práticas no cotidiano da cidade. A presença desses novos moradores repercutirá no ordenamento urbano, na arquitetura das casas e na disposição dos cômodos internos; na moda, na maneira de comer e de vestir, nos usos e costumes importados.

Fotografias foram compostas como fontes importantes para a história da cidade, com informações preciosas para aqueles que queriam conhecer o Rio de Janeiro do século XIX através do trabalho delicado e preciso dos fotógrafos sensíveis e talentosos, que acabaram por nos legar um patrimônio de admirável beleza plástica.

A paisagem, considerada um gênero menor na tradição pictórica, revela sua grande importância na fotografia, tornando-se um elemento imprescindível nos temas principais dessas imagens realistas desenvolvidas com técnicas esmeradas, criadas para servir como ilustrações de mapas, álbuns, guias de viagens, cartões-postais, propagandas, calendários, entre outros, especificamente para mostrar a metrópole, apresentando-a nos seus mais diversos aspectos, ao mesmo tempo que difundia informações de interesse geral. Um chamamento para o diferente, o insólito, o extravagante, o desconhecido...

As imagens iniciam com o impacto da chegada, na entrada da Baía de Guanabara, sucedendo-se no percurso de quem se aproxima do mar para a terra: a entrada da barra, a baía, o porto, o recorte de suas montanhas, as reformas e aprimoramentos da cidade, a luxuriante natureza do seu entorno e dos arredores. Outras imagens eram agrupadas, compunham álbuns conhecidos como “álbum pitoresco” e “álbum panorama”, “cidade-ícone”, “cidade-capital” dos trópicos, que lhe deram a fama de uma das mais belas do mundo, justificando o codinome de “cidade maravilhosa”.

Nesse trabalho, o fotógrafo escolhia ângulos, selecionava aspectos da paisagem, construindo certo número de imagens que, muitas vezes transformadas em monumentos, representavam a cidade, bem como os habitantes e seus costumes.

Não será difícil, hoje em dia, perceber o quanto essas escolhas ainda permanecem como símbolos da cidade, presentes na nossa memória emocional da paisagem carioca, os locais que nos identificam e nos quais nos reconhecemos: as praias, a beira-mar, os morros, o skyline, mas também as várias construções e demolições traduzindo detalhes importantes e criando um documento preciso, um registro fiel da história das transformações urbanas.

Esta fotografia foi tirada durante a Revolta da Armada, em 1893. Da esquerda para a direita, o Morro da Saúde com a antiga Igreja da Nossa Senhora da Saúde, que data de 1742; o Largo da Harmonia e o Moinho Fluminense. No panorama de Marc Ferrez, a fachada lateral do Moinho Fluminense se diferencia do restante da paisagem carioca pela altura de cinco andares, incomum para a época, e a sequência em três módulos iguais, com forte declive dos telhados, elementos pertencentes ao vocabulário da arquitetura industrial inglesa. Vista da Prainha e Saúde, Gamboa. Foto de Marc Ferrez, 1893. COLEÇÃO GILBERTO FERREZ. ACERVO INSTITUTO MOREIRA SALLES
Esta fotografia foi tirada durante a Revolta da Armada, em 1893. Da esquerda para a direita, o Morro da Saúde com a antiga Igreja da Nossa Senhora da Saúde, que data de 1742; o Largo da Harmonia e o Moinho Fluminense. No panorama de Marc Ferrez, a fachada lateral do Moinho Fluminense se diferencia do restante da paisagem carioca pela altura de cinco andares, incomum para a época, e a sequência em três módulos iguais, com forte declive dos telhados, elementos pertencentes ao vocabulário da arquitetura industrial inglesa. Vista da Prainha e Saúde, Gamboa. Foto de Marc Ferrez, 1893. COLEÇÃO GILBERTO FERREZ. ACERVO INSTITUTO MOREIRA SALLES